CORDEL PARAÍBA

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Bem-vindos, peguem carona/Na cadência do cordel,/Cujo dono conhecemos:/Não pertence a coronel./É propriedade do povo:/rico, pobre, velho, novo/deliciam-se deste mel./Rico, pobre, velho, novo/Deliciam-se neste mel.

(Manoel Belisario)



sábado, 2 de julho de 2011

O IMPOSTO NA LITERATURA DE CORDEL


Fonte: fotolog.terra.com.br

por ARIEVALDO VIANNA 

          Dizem que o povo brasileiro é alienado, que não protesta ante a terrível carga tributária que o oprime. Milhões se reúnem nas ruas para brincar carnaval, torcer pela seleção ou mesmo participar da Parada Gay (por favor não pensem que se trata de homofobia, estou apenas ressaltando que essa manifestação consegue reunir milhões de cidadãos e cidadãs brasileir@s em torno de uma causa), mas ninguém vai às ruas protestar contra os impostos abusivos e, pior ainda, ninguém está interessado em saber o destino desse dinheiro que deveria retornar em forma de benefícios para o povo, mas que na verdade acaba sendo desviado, na maioria das vezes, por políticos desonestos e inescrupulosos.
           Na opinião da socióloga Lúcia Luiz Pinto (Revista de História da BN, agosto de 2007), “o povo não entende a quantidade de impostos que paga. Nem tem conhecimento pleno de que, quando compra cachaça, roupa, comida, esses produtos estão lotados de impostos. Ao contrário do que se diz, não existe uma população à margem da economia. Mesmo o mendigo, a criança de rua, compram seus cigarros, sua comida, e, portanto, pagam impostos.”
          Enquanto isso, os ricos vão ficando cada vez mais ricos, os pobres cada vez mais pobres e a tal da classe média baixa é quem termina pagando o pato. No início do século passado, ainda na chamada República Velha, o poeta popular Leandro Gomes de Barros, ainda hoje considerado o maior expoente da literatura de cordel no Brasil, fez inúmeros folhetos, que eram verdadeiros libelos contra os abusos do governo e o arrocho fiscal em cima das camadas mais pobres da população. Folhetos como “O imposto de honra”, “A mulher e o imposto”, e “O povo na cruz” demonstram a indignação e a clarividência deste porta-voz das massas nordestinas. Graças ao esforço da professora Ivone Maya e sua equipe, os folhetos do grande menestrel paraibano, pertencentes à coleção da Casa de Rui Barbosa, encontram-se digitalizados para consulta na internet www.casaderuibarbosa.gov.br/cordel

O POVO NA CRUZ
(trechos)
Alerta, Brasil, alerta!
Desperta o sono pesado,
Abre os olhos que verás
Teu povo sacrificado
Entre peste, fome e guerra
De tudo sobressaltado.

 
O brasileiro hoje em dia
Luta até para morrer,
Porque depois dele morto
Tudo nele quer roer,
De forma que até a terra
Não acha mais que comer.


A fome come-lhe a carne
O trabalho gasta o braço
Depois o governo pega-o
Há de o partir a compasso
Estado, alfândega, intendência.
Cada um tira um pedaço.

O médico cobra a receita
O boticário a meizinha,
O juiz confisca logo
Alguns bens, se acaso tinha,
Inda ficando uma parte
Diz a Intendência: - É minha!


Assim morre o brasileiro
Como bode exposto à chuva,
Tem por direito o imposto
E a palmatória por luva
Família só herda dele
Nome de órfão e viúva.
(O povo na cruz)

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